Por: António Preto Torrão
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Os vestígios dos castros existentes nos montes da “Quecolha” e do “Gago”, sítios do termo de Angueira, evidenciam que o povoamento do seu território antecedeu a dominação romana, que esteve na origem da povoação. Segundo o saudoso Amadeu Ferreira, o topónimo Angueira remontará aos séculos VI ou VII. Para além de salientar a antiguidade da “capielha de San Miguel”, o insigne mirandês assinala a existência de vários documentos escritos – um dos quais do século XII refere a pertença a Dom Telo Fernandes –, quatro moinhos de água e a doação de terras de Angueira ao mosteiro de Moreyrola, atualmente da Província de Zamora, em Espanha.
Mais recentemente, de 1864, ano em que contava 396 almas, até à atualidade, Angueira foi sofrendo oscilações da sua população: de sentido crescente até 1950, ano em que contava 668 habitantes; decrescente, a partir de 1960, mas mais acentuada a partir de 1970. Atualmente, a população que, permanentemente, reside em Angueira está reduzida a cerca de 80 habitantes.
A diminuição da população é consequência da “diáspora”, que, até meados do século passado, foi sobretudo para o Brasil e, a partir dos anos 60, para França. A partir dos anos 70, a saída de jovens para estudar e trabalhar nas cidades e no litoral e a redução da natalidade, que deixou de compensar a saída de migrantes, agravaram ainda mais os, já de si, tão graves efeitos de tal debandada.
Já no século XXI, se a redução da população residente atingiu níveis que ameaçam comprometer a própria sobrevivência de Angueira, mais preocupante é ainda a idade dos residentes. Faltam, hoje, crianças e jovens que a possam revitalizar e garantir, assim, a sua continuidade.
São vários os problemas que Angueira, uma povoação milenar a que nos prendem os laços familiares, atualmente, defronta. É uma dor de alma assistir ao encerramento da escola, ver dezenas de casas desabitadas, hortas e terras sem cultivo, moinhos em ruína, açudes e “calendras” ao abandono. Mas, o que ainda mais dói é vermos tantos familiares, amigos e conhecidos que nos foram deixando para sempre. Para além de traduzirem o despovoamento e a consequente paralisação da atividade económica, tais sinais ilustram também o desacerto das políticas nacional e local: o abandono a que, fazendo jus ao velho aforismo – “Lisboa é a capital e o resto é província!” –, as localidades do Interior têm sido deixadas.
Apesar de tudo, constata-se que, nunca como atualmente, Angueira e o concelho de Vimioso dispuseram de condições tão confortáveis para albergar os residentes e acolher os naturais, que se viram forçados a deixá-la, e os seus descendentes, bem ainda os amigos e visitantes. Foram e continuam a ser recuperadas várias casas de habitação, boa parte das quais recorrendo à utilização de materiais tradicionais. Um bom prenúncio, sem dúvida. Mas, sendo ainda pouco, é preciso e importa, pois, fazer mais.
Se ficarmos indiferentes, impassíveis ou à espera, Angueira e as mais localidades do concelho de Vimioso correm o risco de perder a sua identidade e, pior que isso, de definhar irremediavelmente. Está nas nossas mãos ajudar a evitá-lo. Revitalizá-las é, pois, o grande desafio que, atualmente, se coloca aos naturais, residentes ou não, e aos seus descendentes, espalhados por Portugal e pelo Mundo, bem ainda aos seus amigos. Estou crente de que, irmanados neste ideal e aproveitando o que de bom também nos trouxe a chamada aldeia global, cada um e o conjunto dos membros do grupo Angueira Atalaia, integrante do grupo maior A Atalaia, vamos dar o melhor de nós, o que poderá ser um inestimável contributo para afastar tais ameaças. Da confluência de esforços, do estreitamento de laços e do diálogo entre os membros do grupo de cada uma e das várias localidades que o integram, potenciando sinergias, para além de servir de ponte, num longo abraço e na recriação ou no estreitamento de laços, entre os naturais e os descendente de outros naturais que, em resultado da “diáspora”, há mais ou menos tempo, se encontram espalhados pelo mundo, há de resultar também – pelo menos, esperamos que resulte – a revitalização e o engrandecimento das localidades e do concelho de Vimioso. Contribuiremos, assim, para os conhecer e tornar melhores e mais apetecíveis para trabalhar, visitar e (con)viver.
Angueira e o concelho de Vimioso precisam e merecem. Vamos a isso!
Um abraço a todos.
Notas:
1) A primeira casa, que era do “tiu Joan Fresco” ou “Joan Ratico”, foi recuperada por Vítor Brancal. A foto foi, gentilmente, cedida por Fátima Malheiro, a quem agradeço a simpatia.
2) A segunda casa, que era do “tiu Ferreiro”, foi recuperada por Emílio Torrão, que, gentilmente cedeu também a foto. Agradeço-lhe também tal simpatia.
3) Felizmente, há ainda mais casas já recuperadas e outras em recuperação. Porém, não disponho de fotos das mesmas que me permitam reproduzi-las aqui.
António Preto Torrão. Licenciado em Filosofia (Universidade do Porto)
DESE em Administração Escolar (ESE do Porto)
Mestre em Educação – Filosofia da Educação (Universidade do Minho)
Pós-graduado em Inspeção da Educação (Universidade de Aveiro)
Professor e Presidente Conselho Diretivo/Executivo
Orientador de Projetos do DESE em Administração Escolar (ESE do Porto)
Autor de livros e artigos sobre Administração Educativa
Formador Pessoal Docente e Diretores de AE/Escolas
Inspetor e Diretor de Serviços na Delegação Regional/Área Territorial do Norte da IGE/IGEC
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