quarta-feira, 26 de abril de 2017

Francisco de Morais

Natural de Bragança. Foi comendador da ordem de Cristo e tesoureiro da casa real, reinando D. João III.
O autor da Biblioteca Lusitana (Diogo Barbosa Machado), que no 2.º tomo dá este autor como nascido em Bragança, veio no 4º a dá-lo como natural de Lisboa, sem apresentar os fundamentos que para isso teve; portanto, o seu testemunho em nada invalida a opinião geral que o faz oriundo da nossa cidade, opinião que Inocêncio Francisco da Silva tem como mais segura. E embora nascesse em Lisboa, todos concordam que seus pais eram de Bragança, da nobre família dos Morais. Era filho de Sebastião de Morais, tesoureiro-mor do reino, e de D. Juliana de Morais. Em 1540 acompanhou a França o embaixador D. Francisco de Noronha, 2.º conde de Linhares.
Morreu violentamente em idade provecta às portas do Rossio de Évora em 1572, como informa a citada Biblioteca Lusitana, sem particularizar as circunstâncias deste lamentável acontecimento.
As poucas notícias que dele nos restam podem ver-se resumidas no princípio do tomo I da edição do Palmeirim de 1786 ou no Catálogo dos Autores, que antecede o Dicionário Português da Academia, pág. CLVII.
Escreveu: Crónica de Palmeirim de Inglaterra. Primeira e segunda partes. Évora, 1567. Fol. gótico.
Há quem diga que em 1564 se fizera desta obra uma edição com a declaração de que era a terceira. Se assim é, a dita edição de 1567 é a quarta. Há também quem conteste a paternidade desta obra a Francisco de Morais, baseados na Vida de D. Quixote, de Cervantes, liv. I, cap. VI, atribuindo-a a el-rei D. João II, o que não é aceitável. É certo que a Crónica de Palmeirim não é originariamente portuguesa, mas Morais, tomando conta do assunto sobre o qual já se escreveram livros anteriores em castelhano e francês, introduziu-lhe tais elementos de sua própria casa, com tanta elegância e propriedade, que bem se pode dar como original.
Fez-se nova edição deste notável livro em 1532, fólio, e em 1786 apareceu outra com estes dizeres: Crónica de Palmeirim de Inglaterra – Primeira e segunda partes, por Francisco de Morais, a que se ajuntam as mais obras do mesmo autor. Lisboa, 1786. 4.º; três tomos. Sobre esta edição fez-se recentemente outra.
Escreveu mais: Diálogos, com um desengano de amor, sobre certos amores que teve em França com uma dama francesa da rainha D. Leonor. Évora, 1624. 8.º
Diogo Barbosa Machado, no livro acima citado, ainda lhe atribui mais a seguinte obra escrita em castelhano, no que se enganou, como diz Inocêncio F. da Silva: De los valorosos y esforçados hechos en armas de Primaleon, hijo el emperador Palmeirim, y de su hermano Polendos.
A 3.ª, 4.ª, 5.ª e 6.ª partes do Palmeirim são de outros autores, respectivamente Domingos Fernandes e Baltasar Gonçalves Lobato.
Em 1807 e 1829 foi traduzido, respectivamente, para inglês e francês este celebérrimo romance português.
A propósito da Crónica de Palmeirim, diz Baptista de Castro, chamando-lhe celebrado e transcrevendo a opinião do padre Teles na sua História de Etiópia, livro I, cap. I: «que o autor com a amenidade do seu florido ingenho e com a suavidade do seu elegante estylo, só pretendeu recrear os leitores com fabulas doutas e com ingenhosas ficções».
Depois, Inocêncio F. da Silva, no «Suplemento» ao Dicionário tomo IX, mudou de opinião relativamente à originalidade portuguesa da Crónica de Palmeirim, em vista do opúsculo de Odárico Mendes – Opúsculo acerca do Palmeirim de Inglaterra e seu autor, no qual se prova haver sido a referida obra composta originalmente em português, onde a originalidade portuguesa desta obra é sustentada com incontestáveis razões convincentes.
Também o notável filólogo Ferdinand Deniz, no artigo «Francisco de Morais» da Nouvelle biographie général, tomo XXXVI, impresso em 1861, sustenta a mesma opinião baseado em razões poderosas, indo assim de acordo com as opiniões de Southey e Monglave. É verdade que o crítico espanhol D. Pascual de Gayangos, em dois artigos que publicou em 1852 nos n.os 2 e 3 da Revista española de Madrid, pretendeu refutar a opinião de Odárico Mendes, mas o literato também espanhol D. Nicolau Diaz de Berjumera, em um extenso trabalho oferecido à Academia Real das Ciências de Lisboa, confutou a menos judiciosa opinião do seu conterrâneo. Por último, apresenta uma prova quase decisiva: é a carta dum contemporâneo, da qual se conclui que nesse tempo passava, sem dúvidas algumas, como de Francisco de Morais originariamente a Crónica de Palmeirim. À vista disto não restarão dúvidas, acabando de pulverizar algumas que ainda havia o estudo de Teófilo Braga nas suas Questões de literatura e artes portuguesas, de págs. 248 a 258, intitulado «Reivindicação do Palmeirim de Inglaterra ».

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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