terça-feira, 28 de junho de 2016

Ministro da Cultura quer revitalizar a Fundação Côa Parque

A possibilidade de o Museu e o Parque Arqueológico do Côa passarem para a tutela da Direcção-Geral do Património Cultural está definitivamente posta de parte.
O ministro da Cultura reuniu-se esta segunda-feira em Foz Côa com o presidente da administração da Fundação Côa Parque, António Ponte (também Director Regional de Cultura do Norte), o autarca Gustavo Duarte e  a responsável da recém-criada Unidade de Missão para a Valorização do Interior, Helena Freitas, e saiu deste encontro de trabalho com a certeza de que “todas as partes envolvidas convergem na defesa da fundação”, disse ao PÚBLICO uma assessora de Luís Filipe Castro Mendes.

Como já tinha dado a entender, o ministro não partilha da opinião do seu antecessor, João Soares, que pretendia extinguir a Fundação Côa Parque e colocar este património da humanidade sob a tutela directa da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), e prefere reestruturar o modelo de fundação, que lhe parece ser o que melhor permite congregar esforços e recursos financeiros.

O que falta agora saber-se é em que exactos moldes a fundação, que se encontra em ruptura financeira e fortemente endividada, irá ser reactivada. Mas o processo não deverá passar por quaisquer despedimentos, assegurou Castro Mendes, que aproveitou a visita ao Côa  para se encontrar também com os trabalhadores do museu e do parque.

Com as reuniões de trabalho a prolongarem-se até ao final da tarde, o ministro já não teve tempo de espreitar a curiosa exposição que o museu inaugurou no passado dia 18, Ulsan. Bangudae no Museu do Côa, dedicada à arte rupestre da Coreia do Sul, país onde foi descoberta, no início dos anos 70, uma rocha com gravuras neolíticas que incluem, entre outros motivos, as mais antigas representações conhecidas da caça à baleia, com cerca de seis mil anos.

Esta exposição é o segundo momento de um diálogo que se iniciou em 2015, quando o Museu do Côa apresentou no Museu do Petróglifo de Bangudae, na cidade coreana de Ulsan, uma exposição da arte rupestre do vale do Côa, visitada por 30 mil pessoas.

Para os responsáveis do património coreano, o interesse destes contactos não se resume à mútua divulgação deste património dos dois países, mas também ao desejo de perceber melhor como é que os portugueses conseguiram travar uma barragem para salvar as gravuras. É que as rochas gravadas de Bangudae estão também ameaçadas por uma pequena barragem construída para captação de água destinada ao importante complexo industrial de Ulsan.

A mini-hídrica de Ulsan foi construída em 1965 e as gravuras só vieram a ser descobertas em 1971, estando hoje visíveis ou submersas consoante o nível das águas. A Coreia do Sul tem o objectivo de candidatar este seu sítio arqueológico a património da humanidade, o que torna especialmente relevante a experiência do Côa, discutida num recente colóquio com especialistas portugueses e coreanos, organizado no âmbito desta exposição.

Périplo nortenho
A visita ao Côa encerra um périplo nortenho do novo ministro da Cultura, que começou quinta-feira no Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), no Porto, onde Luís Filipe Castro Mendes pôde apreciar os importantes núcleos de Henrique Pousão ou Aurélia de Sousa, mas também constatar in loco as dificuldades provocadas por sucessivos cortes orçamentais. "É um museu de uma riqueza extraordinária”, disse então o ministro, que gostaria de ver o MNSR “inscrever-se mais na rota natural de quem visita a cidade do Porto”.

Depois de se estrear nos festejos sanjoaninos do Porto, na quinta-feira à noite, o ministro rumou no dia seguinte a Guimarães, onde inaugurou a reabertura do acesso à Torre de Menagem do castelo vimaranense, possibilitada pelas obras de requalificação em curso. Uma visita que lhe serviu também para anunciar a aprovação de cinco candidaturas a fundos comunitários para salvaguarda e dinamização de património no Norte do país, num valor total 8,2 milhões de euros.

Apresentadas ao Programa Operacional Norte 2020 pela Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN), com a colaboração de autarquias, dioceses e agentes culturais locais, as candidaturas agora aprovadas incluem um investimento de quase três milhões de euros a ser utilizado, até 2018, em intervenções estruturais de qualificação de sete igrejas sés e catedrais – Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Lamego, Miranda do Douro e Bragança – integradas na Rota das Catedrais da região Norte.  

Já a candidatura Mosteiros a Norte, com um investimento que ronda os 2,5 milhões de euros, permitirá dar continuidade às intervenções de consolidação realizadas nos mosteiros de Arouca, Grijó, Rendufe, Tibães, Pombeiro e Vilar de Frades, e ainda melhorar ou criar espaços de recepção aos visitantes, reforçando também a divulgação destes antigos espaços monásticos.

Um montante semelhante foi conseguido através da candidatura Castelos a Norte, que prevê obras de recuperação e iniciativas de promoção cultural e turística nos castelos de Montalegre, de Monforte de Rio Livre (Chaves), do Outeiro, em Bragança, de Mogadouro e de Miranda do Douro.

Com quase dois milhões de euros para obras de valorização e acções de promoção, a igreja portuense de Santa Clara é outro monumento que beneficiará deste conjunto de candidaturas a fundos europeus. Com uma decoração interior que a torna um dos mais notáveis exemplos da arte da talha dourada do período do barroco joanino, na primeira metade do século XVIII, a igreja, classificada como monumento nacional há mais de cem anos, chegara a um estado de degradação preocupante, com infestações de térmitas e problemas de humidade.

Também a candidatura Dias do Património a Norte viu aprovado um investimento de 400 mil euros para o seu projecto de turismo cultural, ficando a aguardar aprovação a candidatura Artes no Território a Norte, que prevê outros 400 mil euros para a dinamização cultural de vários espaços tutelados pela DRCN, e o programa Museus a Norte, que se candidata a um investimento de 2,5 milhões de euros para valorizar quatro museus: o de Lamego, o Paço dos Duques, em Guimarães, o Museu da Terra de Miranda e o Museu dos Biscainhos, em Braga.

Luís Miguel Queirós
Jornal Público

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