sábado, 6 de julho de 2019

… quase poema… ou da desesperança

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Mateus 19:24: “...é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”. E as palavras do evangelista ecoam como um sino altaneiro à beira da memória.
Envelheceu e pouco se lhe dá que levem tudo… que a terra fique deserta… e os montes, na ausência do pão, abriguem carrascos e estevas… que levem tudo…
As contas hão-de se fazer, no final do tempo, lá para os lados dos sete estrelos.
E resignado diz: - a horta me basta… e a galinha será promessa do ovo fresco de cada dia…e o porco vai agasalhar muitos Invernos… e a magra reforma repousa ao canto da arca… para uma doença… tempo incerto.
…que ninguém se ria pelo o meu Clube perder no azar do golo matreiro… e que o meu vizinho não se ria pelo meu Partido ter perdido as eleições…
- Ora essa… era o que faltava!
E a velha mais velha, no abandono do filho…lembra-se: 
- o meu filho foi à tropa… menino lindo… a marchar… a marchar… e só o meu filho acertava o passo… ao toque do tambor!... que tontos os outros soldados que não acertavam o passo!... ao toque do tambor…
… meu menino lindo!... tu é que sabes… pois então! 
… ao toque do tambor, ao toque do clarim!
E a dizer sempre sim!


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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