segunda-feira, 31 de agosto de 2015

INSTRUMENTOS MUSICAIS TRADICIONAIS PORTUGUESES

Acordeão  e  Concertina     
O acordeão é mais conhecido em Portugal como ‘harmónio’. É maior do que a concertina e é bastante utilizado em várias regiões do país, sobretudo na parte norte.   A concertina, além de ser mais pequena tem a caixa hexagonal. Estes dois são instrumentos, que não tiveram origem em Portugal mas que foram introduzidos no país e aqui tiveram grande difusão. Vindo a ocupar, muitas vezes, o tocar da viola. Hoje existem algumas regiões do país onde mesmo o acordeão já não tem a força que teve. É o caso de Venha Garcia, na Beira Baixa onde a 'Ti Chitas” recorda o tempo em que os bailes, chegavam a ser feitos só com o acordeão. Lembra também outras situações em que ele era bastante utilizado, como nas romarias ou mesmo nas peregrinações a Fátima.
Adufe e Pandeiro 
O adufe é um instrumento oriundo da região da Beira Baixa. É tradicionalmente feito e tocado pelas mulheres: as adufeiras. É um instrumento quadrangular que é feito a partir da pele dos animais da região. O facto de serem zonas ricas em pastorícia justifica de algum modo a grande explosão de adufes saídos das mãos habilidosas das mulheres da Beira Interior. Antigamente era vulgar as pessoas juntarem-se em casa umas das outras ou no largo do pelourinho daquele lugar e tocarem adufe ao despique. Os homens jogavam o "truque” (um jogo de cartas) e as mulheres cantavam, dançavam e tocavam. O adufe também esteve desde sempre ligado aos acontecimentos religiosos e às romarias, mesmo na Quaresma quando os divertimentos eram “proibidos". O adufe era o instrumento que acompanhava as melodias tris­tes, próprias da quadra.  Em Trás-os-Montes e no Alentejo o adufe é mais conhecido por pandeiro. Na província transmontana a sua decoração é mais sóbria. Já no Alentejo, os pandeiros são enfeitados com cores mais garridas. Em Trás-os-Montes eram igualmente tocados pelas mulheres por ocasião dos “jogos de roda" e das “danças em paralelo”. Eram antigas formas de convívio que ainda acontecem uma vez por outra e que antigamente eram bastante frequentes por ocasião do fim das fainas agrícolas. Para terminar a apanha da azeitona, a apanha da amêndoa e as colheitas do trigo, reuniam-se as pessoas e os instrumentos e faziam-se grandes paródias.   Há cerca de cinquenta anos atrás, quando ainda se fazia a monda, as raparigas levavam consigo o pandeiro para irem tocando pelo caminho e os rapazes transportavam o realejo, a gaita-de-beiços e a pandeireta, que também não faltava, quando apela a animação. Cantavam, tocavam e até dançavam enquanto iam e vinham da faina. Dizem os mais antigos da região de Bragança que, eram tempos muito mais animados, em que as pessoas eram alegres. Agora, dizem que as novas tecnologias são fatores de dispersão para os mais novos, que deixariam de ligar às riquezas da tradição.
Bandolim 
Tem a forma um pouco semelhante a uma guitarra portuguesa, mas a sua caixa é mais estreita. É muito tocado no norte, onde o podemos ver acompanhar as danças minhotas. É um instrumento de origem italia­na que entrou em Portugal e por cá ficou. Dizem os artesãos que os fabricam na região de Braga, que os tradicionais são feitos de madeira boa e de forma artesanal, enquanto os que se vendem agora no mercado são mais pequenos e são feitos de madeira prensada.
Caixa e Bombo 
Quem o vê passar pendurado ao pescoço do instrumentista, não pode deixar de sentir uma espécie de respeito, que vai aumentando á medida que ele levanta o (pau) para dar a primeira pancada. Estamos a falar do Bombo que com o seu ar imponente marca uma presença especial no “gaiteiro". Gaiteiro é precisamente o nome atribuído ao grupo instrumental composto pelo bombo, pela caixa e
pela gaita-de-foles, sempre presente nas festas e romarias que vão desde o norte à região de Pombal. Quando chega a altura da festa do santo, o gaiteiro anda pelas ruas, quer se trate de desfiles, de peditórios, de cortejos ou de procissões. No Minho são conhecidos como 'Zés Pereiras' e é sobretudo no Carnaval, que eles entram em ação.
Em Trás-os-Montes, o gaiteiro é usual nas, "festas dos rapazes", que acontecem todos os anos no Natal. É acompanhado pelos ferrinhos. A caixa é igualmente da família dos tambores mas tem um tamanho mais reduzido. Nas festas do Espírito Santo nos Açores também vamos encontrar o tambor, os trinchos e os testos.
Castanholas 
Ao contrário da que muitos de nós podemos pensar, castanholas não são apenas um instrumento de terras de Espanha, elas também existem em Portugal, tocadas e feitas por mãos habilidosas, normalmente de pastores. São talhadas nas mais variadas formas e feitios e como que esculpidas com a ponta da navalha. Eram comuns tanto na região de Trás-os-Montes, como no Alentejo e ajudavam a dar ritmo. Ainda hoje são utilizadas nas “festas dos rapazes" em Trás-os-Montes. O que acontecia muitas vezes, sobretudo nas regiões onde as pessoas são menos preocupadas com a estética, é que bastava pegar em duas tabuinhas ou em duas pedras e juntá-las, pois mesmo sem grandes requintes, já era possível obter o som desejado.
Cavaquinho 
É nas rusgas minhotas que vamos encontrar o cavaquinho em toda a sua popularidade. É um instrumento semelhante à viola mas de pequenas dimensões, e com um timbre agudo. Tem um carácter exclusivamente lúdico e profano e tanto pode aparecer sozinho para acompanhar o canto, como acompanhado pela viola, violão ferrinhos, tambor e reque-reque. Dizem os entendidos que é um instrumento que se adapta bem às vozes agudas das mulheres do Minho, bem como ao ritmo das ‘chulas', dos "viras', dos "malhões" e "canas verdes". A sua importância na região minhota é tal que ainda não há muitos anos, não havia casa rural em Guimarães que não tivesse um cavaquinho.
No entanto e apesar de ser aí que ele adquire maior expressão, não é só no Minho que podemos encontrar este instrumento popular: Lisboa, Algarve e Madeira também têm uma palavra a dizer sobre o assunto. Trata-se de cavaquinhos muito semelhantes entre si e um pouco diferentes do minhoto, quer na forma quer na função em que são aplicados. O do norte tem a caixa em boca de raia e é utilizado em festas populares. O do sul tem a boca redonda, é um pouco mais curto de caixa e mais comprido de braço e é essencialmente um instrumento de tuna, embora hoje, seja também muito utilizado na música tradicional portuguesa e folclórica. Na Madeira o cavaquinho tem praticamente as mesmas características da do sul, mas é mais conhecido por "braguinha”.
Este instrumento popular cuja origem levanta muitas duvidas foi levado também para o Brasil, Cabo-Verde e ... Havai, onde é conhecido por 'ukulele' que significa “salto da pulga”.
Chincalho, Reclamo e Zaclitrac 
São três instrumentos com sons peculiares e utilizados em diferentes situações. O chincalho é feito de madeira com umas caricas pregadas na parte superior que é tradicional da região do Alto Alentejo e que antigamente os rapazes levavam às sortes.   O reclamo, é igualmente feito de madeira e a sua função é essencialmente a de atrair a caça. Trata-se de dois paus de madeira: um tem furos e é friccionado pelo outro. O zaclitrac é uma matraca de martelos, tudo feito em madeira e executada pelas gentes das aldeias ao norte de Viana do Castelo. É sobretudo nessa região que o zaclitrac é utilizado nas cerimónias da semana Santa e festejas tradicionais como, o Carnaval e S. Martinho.
Flautas
São vários os tipos de flautas tocadas de norte a sul do país. Geralmente são feitas pelos pastores nas horas de pastoreio, vão aplicando a ponta da navalha em pedaços de cana ou pau e talhando bonitas flautas. É o caso das flautas feitas pelos boiadeiros na região de Trás-os-Montes, talhadas em pau de freixo ou em cana, secos. Hoje apesar dela não ser tão frequente ainda é possível encontrar alguns pastores que se dedicar a fazer este tipo de esculturas funcionais. É curioso notar que na região de Miranda existe uma maior preocupação estética com as flautas e com os restantes instrumentos. Uma das justificações para tal pode ser atribuída ao facto de não existir cultivo de azeite nem amêndoa, nesta região, sendo a pastorícia a grande atividade a que se dedica a população. Ora, isso deixa-lhes mais tempo livre para trabalharem os objectos.  Mais para sul, na região da Beira baixa, ainda é possível encontrarmos quem faça e toque as tradicionais flautas de cana.
A flauta de barro também podia ser encontrada em Trás-os-Montes e normalmente era a flauta em que aí se aprendia a tocar.
A flauta transversal, ou fraita, como há quem lhe chame, é outro tipo de flauta que os rapazes de Trás-os-Montes faziam sobretudo no Carnaval, pegando num pedaço de cana e forrando-o com papel numa das extremidades.
A flauta de tamborileiro, deve o seu nome ao fado de ser tocada em conjunto com um tamboril pela mesma pessoa, o tamborileiro. Ainda é frequente encontrarmos este tipo de instrumento em Miranda do Douro, a acompanhar os Pauliteiros.
Gaita-de–Foles 
É companheira de festa e de folia e nas suas digressões pelas ruas das aldeias portuguesas, que vão do norte ao centro do país tem quase sempre como companheiros o rufar da caixa e o estrondo do bombo. O este conjunto de instrumentos dá-se precisamente o nome de “gaiteiro”. Trás-os-Montes, Minho, Beira Litoral e Estremadura são as províncias onde podemos encontrar as tradições da gaita-de-foles. É um instrumento essencialmente popular e lúdico próprio para festas de aldeias, cortejos, marchas, casamentos mas também cerimónias religiosas, como procissões ou na época natalícia, a “missa no galo”. Era assim há tempos atrás na região de Coimbra, Estremadura e Ribatejo, regiões onde o instrumento foi esmorecendo ao longo do tempo. Mesmo assim, nas aldeias ao redor de Coimbra ainda são vulgares as procissões e os peditórios acompanhados de gaiteiro.   Mas é em Trás-os-Montes, onde a gaita-de-foles goza de maior rusticidade, que o instrumento assume maior importância. O 'beijar do Menino’, as danças dos pauliteiros, os peditórios, os casamentos e outros acontecimentos festivos ainda são motivos para tocar a gaita-de-foles.    É um instrumento com uma longa história para contar. A sua fama não se resume às fronteiras portuguesas, pois quem nunca ouviu falar das gaitas escocesas? A sua origem está tradicional­mente associada aos pastores, quer se trate de Portugal ou dos outros países. E não são poucos, aqueles em que vingou: na Idade Media aparece espalhada por todos os países da Europa bem como Ásia e norte de África. A grande diferença entre a portuguesa e a dos outros países está no facto da nossa ser mais rude e própria para tocar na rua. Outras há, de timbre mais suave que são tocadas dentro de casa. Hoje, grande parte das gaitas-de-foles vêm da Galiza, porque há pouco quem as faça em Portugal. A sua marca dominante continuam a ser as franjas garridas, mas, o saco que antigamente era feito de pele de cabrito, cabra ou carneiro passou a ser feito de borracha.
Genebres 
É colocado ao pescoço e tocado como um xilofone. Apareceu a ser tocado pelos homens da aldeia de Lousa, perto de Castelo Branco, no século XVII, naquela que ficou para sempre conhecida como a ‘dança dos homens". Ninguém sabe a sua origem. Já se fizeram várias tentativas para fazer replicas, usando vários tipos de madeira, mas o material que lhe deu forma permanece no segredo dos deuses. Em tempos, chegou-se mesmo a mandar vir madeira das colónias ultramarinas mas, o facto é que nunca se detetou nenhuma igual à original. Algumas madeiras africanas emitem um som parecido, mas nunca é exatamente o mesmo.   Existe apenas um exemplar de genebres ('genéves ou naves') originais, que saem às ruas de Lousa no terceiro domingo de Maio, para celebrar a “dança dos homens". Segundo a descrição das gentes da aldeia “dá um som mais ou menos uniforme e marca com as bandurras o ritmo da contradança em que entram cadenciadamente, os moços dos pandeiros”. Ninguém canta... ninguém diz nada. Apenas o mover dos pés e os sons surdos dos instrumentos, quebram aquele silêncio religioso”.
Guitarra  portuguesa 
Emite sons que dão voz à alma e força aos sentimentos. É dedilhada por grandes mestres e
amada pelos orgulhosos da tradição. Chama-se guitarra. Guitarra portuguesa. E é o mais precioso símbolo dos instrumentos tradicionais portugueses. Apesar de ser conhecida como guitarra portuguesa, podemos encontrar três tipos um pouco diferentes, consoante o local onde surgiram. Estamos a falar da guitarra do Porto, da guitarra de Coimbra e da guitarra Lisboa. Hoje já praticamente não se distingue a guitarra do Porto da de Lisboa, mas entre de Coimbra e de Lisboa, ainda é possível encontrarmos algumas diferenças significativas quer em termos de forma, quer em termos de som. A diferença mais visível é a da forma voluta, (a extremidade superior da guitarra).
A do Porto termina em rosa, a de Coimbra escudo e a de Lisboa em caracol. Esta última é
bastante mais ornamentada do que a Coimbra. Enquanto a guitarra de Lisboa, apresenta
embutidos em madrepérola, a de Coimbra é bastante mais simples, pois a sua tradição está
ligada aos estudantes, que não têm dinheiro para grandes ornamentos. A guitarra de Coimbra é afinada um tom abaixo do normal e por isso tem as cordas mais grossas para aguentar a tensão. Dizem os mestres que as dedilham que existem também pequenas diferenças na técnica de execução. O timbre é por si só um motivo de diferença entre ambas e apesar de acompanhar o tradicional fado de Coimbra, a guitarra daquela cidade é um instrumento de solo por excelência.
Quanto á origem deste belo instrumento que se convencionou chamar guitarra portuguesa,
nada está definido. Esta é, aliás, uma questão que levanta polémica e que parece esta longe de um consenso. Há quem defenda que ela descende da citara e há quem diga que ela advêm da guitarra inglesa que os ingleses trouxeram para a Porto quando começaram a comercializar o vinho do Porto. Há também quem afirme que foi já neste século que lhe foi dada a forma fina e o perfil de guitarra portuguesa. Quem goza da fama de ter sido mestre nessa obra é, Artur Paredes (pai de Carlos Paredes) e João Grácio, avô de Gilberto Grácio e grande exímio na arte de fazer guitarras. Uma das alterações significativas depois das mãos destes homens foi o aumento da caixa e consequentemente da sua sonoridade.
Hoje a guitarra portuguesa continua a ser um elemento fundamental no acompanhamento do fado. Quer se trate do fado de Coimbra, quer se trate do fado castiço, (Lisboa). Quanto ao seu fabrico, já não são muitos os mestres que pegam na madeira e dão forma aos mais belos e fidedignos exemplares. O pau-santo, o êbano, o mogno e o spruce, são as madeiras que quando trabalhadas por artesãos exímios, permitem o som 'magico' da guitarra portuguesa.
Rabeca
É conhecida como rabeca chuleira e é em terras animadas do Minho, que o seu som é particularmente apreciado. É muito parecida com o violino mas tem uma escala mais aguda e o braço bastante mais curto. É afinada uma oitava acima daquele e dizem os que sabem tocar que não é nada fácil. Os antigos, muitos deles aprenderam a tocar de ouvido. É o caso de Bernardo Ribeiro de um lugar perto de Amarante. Foi à localidade de Baião comprar a sua rabeca e depois foi a casa de um vizinho para lha afinar. Levou-a para casa e aprendeu sozinho, de ouvido. Já se passaram 40 anos e ele lá continua com a sua rabeca em tudo o que é chula da região. É que este instrumento pode ser considerado o grande “maestro” da chula em terras que se estendem do Douro até Amarante, Guimarães e Santo Tirso, pois no Minho é caso para dizer: “em terra de chulas quem tem uma rabeca é rei”. É ela que comanda e dá o tom aos restantes instrumentos que compõem o grupo: a viola braguesa, o violão, os ferrinhos e o bombo.
Reque-Reque ou Reco-Reco
O som do reque-reque chega-nos das terras do Minho. É um instrumento que antigamente os homens faziam facilmente: pegavam numa tábua ou cana e faziam-lhes uns dentes (cortes) e friccionavam-nos, com uma cana rachada. Este instrumento era muito utilizado nas festas populares minhotas. Em Amarante era também tocado nas Janeiras e na altura dos Reis, quando as pessoas ainda tinham o hábito de andar com uma viola, um cavaquinho, um bombo e um reque-reque de casa em casa a cantar, a tocar e a beber uns copos.
Sarronca ou Ronca
Este é um instrumento que pode ser integrado na categoria dos membranofones, isto é, instrumentos feitos a partir da pele dos animais. É o caso da 'zamburra’ que é como ela é mais conhecida em Trás-os-Montes e na Beira Baixa. No fundo, é um tambor feito de uma base de barro ou madeira, que é coberta por uma pele que tem ao centro um elemento fixo, que é esfregado e do qual sai a vibração. Era utilizada em toda a faixa ocidental do norte e também nas regiões pastoris do interior.
Em Trás-os-Montes, por exemplo, ela era utilizada como acompanhamento do violão, da rabeca e da guitarra nos encontros de taberna. Na Beira Baixa, a ‘zamburra’ já deixou de ser tocada, mas antigamente era utilizada num cerimonial muito peculiar. Durante a Quaresma, as gentes da aldeia iam com ela a casa das pessoas idosas, cantar e tocar numa cerimónia a que se dava o nome de 'serração da velha’.
Este instrumento era ainda utilizado noutras circunstâncias como nas batidas aos lobos feitas pelos caçadores e pastores.
Sanfona
Decerto já todos ouvimos algum comentário menos favorável a respeito da sanfona.
Começou por ser um instrumento só para alguns. Foi célebre pelas suas capacidades e pela doçura da sua melodia. Hoje, porém, é lembrada como algo insuportável, desafinado e ensurdecedor, isto tem uma razão de ser.
É que aquele instrumento complicado, de cordas, com teclas e ainda por cima, com uma manivela. Não teve uma vida fácil. E dizemos 'não teve’, porque a sua época já terminou.
Hoje já praticamente ninguém sabe o que é uma sanfona, sabem apenas, que é algo pouco
melodioso. Mas o melhor é perceber o seu percurso. A sua história não se limita ao nosso país. Surgiu por volta do século XIII sob a designação de 'chinfónia’ ou “sinfónia" e por detrás da sua origem está um outro instrumento medieval, chamado “organistrum”, ainda mais complicado e que só era possível de ser tocado por duas pessoas em simultâneo.
Uma vez que o “organistrum" tinha um carácter essencialmente monástico, a sanfona veio permitir uma laicização daquele instrumento e passou a ser tocada apenas por uma pessoa, o que não é nada fácil. Começou por ser tocada por príncipes, trovadores e jograis, mas com o tempo, foi passando de mãos para mãos e no século XIX, já era vulgar nas mãos dos cegos e dos mendigos, que a utilizavam para andar a pedir de porta em porta.
E assim, aquele que começou por ser um instrumento cuidadosamente tocado, deixou de o ser. Passou a estar desacreditada e foi essa a memória que ficou para a posteridade. Hoje, já nem nas mãos dos mendigos a encontramos, porque pura e simplesmente passou á extinção. Ainda é possível ver um exemplar no Museu Verdades de Faria e outro na fundação Calouste Gulbenkian, mas que já praticamente quase ninguém arrisca a tocar.
É que fazê-lo implica dar à manivela, com a mão direita, que acciona as cordas e com a mão esquerda dedilhar as teclas. Não é tarefa fácil.
Viola Amarantina ou Dos Corações
O seu berço situa-se na bonita cidade de Amarante. Pelo menos, assim nos faz crer o nome com que foi batizada. Hoje já está praticamente extinta naquelas paragens, mas tempos houve em que a viola dos corações era uma companhia indispensável no caminho para as mondas ou nos serões animados nas eiras, onde se espadelava o linho ou desfolhava o milho. Faziam-se as alegres 'jogatadas’ às vezes duas e três vezes por semana, em que se cantava, dançava e toca­va, sempre com a presença da viola amarantina. Acompanhava também a rabeca nas tradicionais  ‘chuladas’, a par do bombo, dos ferrinhos e do violão.
Hoje já praticamente, não há quem faça este instrumento tradicional que exige muita paciência por parte de quem a trabalha e para o qual são necessários vários tipos de madeira: pinho, flandre para o tampo, nogueira para as costas e ilhargas, cerejeira para o braço e pau-preto ou pau-santo para a escala.
As gentes de Amarante também guardam na sua tradição a viola chuleira. É muito parecida com a viola amarantina, da qual diverge apenas na escala. É típica do lugar de S. Simão nas redondezas de Amarante e, tal como o próprio nome indica, é tocada nas chuladas.
Viola Beiroa
Na região da Beira Baixa, somos atraídos pelo som da viola beiroa. Não se sabe ao certo a sua data de origem, o que se sabe, é que no século XVII ela surge a acompanhar outro instrumento, as «genebres» nas danças tradicionais da aldeia de Lousa. Trata-se da “dança dos homens” que tiveram origem no ano de 1640 em que uma praga de gafanhotos assolou aquela aldeia. A população acorreu à virgem dos Altos Céus em busca de auxilio, e vendo que ela tinha atendido predispôs-se a agradecer-lhe. Uns foram para a igreja e outros preferiram ficar no largo a cantar e a dança, como forma de louvor. Foi o que aconteceu com um casal e as suas oito filhas que formaram assim a "dança das Virgens". Os homens, não querendo ficar atrás também se organizaram numa característica dança.
São estas danças que todos os anos em Maio são encenadas e revividas pelas raparigas e rapazes da aldeia. Na dança dos homens, existem cinco homens que tocam a viola Beiroa, ou ‘bandurra’, como também é conhecida naquelas paragens. Originais, existem cerca de seis que atualmente lá estão dispersas por vários locais. A sua origem permanece na obscuridade mas há quem lhe atribua afinidades aos árabes. Apesar do autor das originais permanecer no segredo dos deuses, há quem lhe tente decifrar os segredos de manufatura ao fazer cópias das antigas ou ao tentar recupera-las.    Mas não é só nesta aldeia que a viola beiroa tem uma longa tradição. Em toda a região de Castelo Branco é possível encontrar referências a esta viola. Ao contrario do que acontece em Lousa onde ela aparece ligada a tradições cerimoniais. A viola beiroa surgiu, na maior parte das vezes, como um instrumento utilizado em festas lúdicas do tipo serenatas ou parabéns aos noivos, normalmente acompanhada pelo adufe ou pela concertina.
De todas, esta viola portuguesa, que se encontra seriamente ameaçada pela extinção, é a que apresenta mais ornamentos. Tem uma “cintura” estreita, a boca sempre redonda e pequena e, muitas vezes, as cravelhas recortadas ao pormenor pelas mãos dos pastores.
Viola Braguesa 
É na região norte de Portugal onde o povo é esfuziante por natureza e não tem receio de sair à rua para festejar, que vamos encontrar algumas belas versões das violas populares portuguesas. Ao contrário das violas tradicionais do centro e sul do país, as violas do norte ainda se mantêm como instrumento básico no acompanhamento dos acontecimentos festivos da região. É o caso da viola braguesa ou viola minhota, que as modernidades da era da imagem parecem mais longe de ameaçar. Toca-se de rasgado e é um instrumento fundamental nas chulas, nas rusgas e nos desafios. Tanto pode ser tocada a solo como acompanhar o canto e outros instrumentos como o cavaquinho, o violão, o tambor os ferrinhos, o bandolim, a rabeca. Às vezes também o acordeão, a harmónica e o reque-reque.
Existe mais do que um modelo de viola braguesa mas a mais característica tem a abertura central em 'boca de raia'. As outras dizem respeito a modelos mais antigos e apresentam bocas redondas ou ovais deitadas. Comuns a todas elas são as cinco cordas duplas. As suas medidas não são rigorosas no entanto existem duas medidas que se vulgarizaram: a de tamanho normal, que acompanha normalmente com o cavaquinho e a de tamanho mais pequeno a que se dá o nome de 'requinta’ e que é indicada para tocar sozinha ou a acompanhar o canto.
O nome de origem remete-nos para Braga mas não se sabe ao certo quando terá sido o seu nascimento. Sabe-se no entanto que a no século XVII existia um artesanato violeiro em Guimarães e Braga. Segundo diz Ernesto Veiga de Oliveira no seu livro "Instrumentos Musicais Populares Portugueses” e referindo-se a Guimarães, já em 1632 os violeiros eram “obrigados a acompanhar as procissões que se organizavam na então vila, e em especial a do Corpo de Deus, sob pena de multa”.
O Porto acabou por ser também um centro onde se foram radicando os violeiros. Bastava che­gar ao bairro da Sé para os apreciar a trabalhar. Barcelos e Viana do Castelo são localidades onde este tipo de artesanato também chegou. Hoje, os artífices desta obra encontram-se sobretudo na região do Porto e de Braga.
Viola Campaniça
Já foi a menina dos olhos bonitos do povo alentejano, agora o seu destino parece condenado à extinção, pois são apenas dois os ‘mestres' que dedilham esta viola. Apesar disso, a sua origem ainda continua a dar que falar.
Não existe consenso por parte dos estudiosos das suas origens: uns acham que foram os árabes os seus pioneiros; outros encontram no trovadorismo as suas raízes.
O que se sabe é que esta viola em forma de oito se radicou na região de Castro Verde, sendo também tacada nas regiões de Odemira, Ourique, Almodôvar e parte da serra algarvia. A sua forma é bastante semelhante à viola beiroa, contudo a sua cintura é ainda mais estreita. A viola campaniça que adquiriu o nome em função da região em que se radicou, que não é de serra nem de monte mas campaniça, era nos seus tempos áureos tocada em várias circunstâncias desde os bailes e festas da aldeia às desgarradas nas
tabernas. A primeira vertente está hoje em dia completamente posta de lado. A segunda tem sido gradualmente reavivada com os cantos de despique e de baldão, acompanhados pela popular viola campaniça. Estes cantos são reanimados uma vez por mês por iniciativa da Cooperativa de Informação e Cultura-Cortiçol de Castro Verde, à semelhança das velhas tertúlias que foram muito frequentes em tempos e que começaram a ser proibidas há uns séculos a trás. Sem deixar perder a veia poética alentejana, esses serões dão luz verde aos poetas repentistas, que fazem as suas poesias no momento, sempre acompanhados pela viola Toeira. Hoje, a Cortiçol mais não faz mais, que dar um novo impulso aqueles que se acreditam ser os primitivos cantares alentejanos, acompanhados por instrumentos.
Viola da Terra
“Viola da terra” ou 'viola de arame', são os nomes que se dão ao mais popular instrumento dos Açores. A viola é um instrumento de grande rusticidade que pertence á mais antiga tradição musical do arquipélago e a sua importância tal que até há pouco tempo, como relata Ernesto Veiga de Oliveira, no livro Instrumentos Populares Musicais dos Açores, ela faria parte do enxoval do noivo e do mobiliário domestico de 50% dos casais, vendo-se geralmente no lugar de honra da casa, em cima da cama dos donos, sobre a colcha para se proteger da humidade. E figurava muitas vezes na escassa bagagem do emigrante açoriano que partia para os Estados Unidos da América. A viola atual açoriana mais comum apresenta bastantes semelhanças à viola amarantinas, com a abertura central em forma de dois corações. Consta que antigamente era vulgar a boca redonda. Porém, hoje, esse é o formato mais associado a violada Terceira, ao contrário de S. Miguel e Faial, onde predominam os dois corações.
No arquipélago, a tradição da viola está ligada aos cantares festivos as “modas" e "balhos”, desgarradas, desafios e despiques, serões animados, matanças do porco, desfolhadas e outros trabalhos coletivos.    A decoração é uma das marcas significativas desta viola. Os embutidos com motivos florais em torno da boca em madeira de várias cores e osso de baleia e as incrustações em madrepérola no braço, demonstram uma significativa preocupação pela estética.
Viola Toeira
Chegamos à região de Coimbra e é com pesar que lamentamos a extinção da Viola Toeira que teve os seus momentos áureos antes da vulgarização da guitarra de Coimbrã. Tal como acontecia no norte, com as violas daquela região, a Viola Toeira era ainda há cerca de cinquenta anos o instrumento fundamental que acompanhava os acontecimentos festivos daquela região, nomeadamente as danças os cantares e as serenatas. O toque podia variar entre o dedilhar e o “pontiar”. Era utilizada tanto a solo como a acompanhar o cavaquinho o violão e a flauta e sempre que as gentes das aldeias vizinhas acorriam aos festejos de Coimbra, lá estava presente a viola toeira. No entanto o triunfo da guitarra acabou por dar o golpe de misericórdia na viola toeira, que hoje já praticamente não existe e da qual, muitos nem sequer nunca ouviram falar.   A sua forma geral é em muito semelhante a viola braguesa. Tem cinco ordens com doze cordas das quais as três primeiras são duplas e duas últimas são triplas. Coimbra e Ovar eram os locais onde estas violas eram feitas, variando um pouco de modelo para modelo consoante violeiro que a fabricava.

Texto - in:semibreves.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário