terça-feira, 29 de outubro de 2013

Emigrantes qualificados saem do país para «deixarem de ser jovens»

Os novos emigrantes portugueses em França são qualificados, abandonam Portugal para «deixarem de ser jovens», ter casa própria e constituir família, integram-se como «europeus» e para eles «Paris continua a ser uma festa».
A descrição desta «Geração Europa» foi feita à agência Lusa pelo sociólogo João Teixeira Lopes, professor da Universidade do Porto e autor do estudo "Novos emigrantes para França", cujas conclusões de 2013 vão ser apresentadas na quarta-feira no Colóquio "Imagem da (e)migração vs (e)migração em imagens", na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.
"Esta nova vaga é feminizada, qualificada, planeia [a viagem] e vai para França porque quer deixar de ser jovem. Estão fartos. Em Portugal só podem ser jovens, isto é, precários, intermitentes, constantemente adiando o futuro, permanecendo até muito tarde em casa dos pais, sem qualquer capacidade de constituírem família", descreve o professor, referindo-se ao estudo realizado para a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas sobre a recente vaga de emigração portuguesa para França.
A investigação, que se centrou em jovens entre os 20 e os 35 anos, qualificados e emigrantes em França, serviu para desmistificar a ideia de que "as novas gerações não estão tão voltadas para os valores familiares". 
"A minha amostra está, e de que maneira", assegura Teixeira Lopes, vincando esta vontade dos jovens em se tornarem adultos como motivo para saírem de Portugal, onde não conseguem "ter casa própria, constituir família e ter uma carreira".
"Não é por desespero nem por exclusão. É porque em Portugal não conseguem passar à condição de adultos", garante o investigador.
A amostra abordada pelo estudo do sociólogo é bastante "feminizada" o que, na sua perspectiva, é revelador de um "grau de autonomia que mulheres e raparigas têm para sair do país que não existia antes".
"É também um indicador de fortíssimas alterações nas relações de género em Portugal", destaca.
Outro aspecto diferenciador é o facto de se integrarem como "jovens europeus em França".
"Não agem como comunidade. Daí a geração Europa. Não se vêem na condição de emigrantes e tanto não contactam com a comunidade francesa como com as velhas comunidades portuguesas. Estão inseridos em dinâmicas de globalização e vivem as relações sociais à distância sem grandes problemas", descreve Teixeira Lopes. 
É por isso que depois de ter recorrido a instituições financeiras, redes consulares, associações, autoridades nacionais e francesas, a investigação do sociólogo apenas conseguiu encontrar esta nova vaga de emigrantes "nas redes sociais".
"Esta emigração qualificada prepara a viagem e não trata de todos os processos e documentos como trataria em Portugal", justifica.
Relacionando-se sobretudo com outros novos emigrantes portugueses qualificados, para estes jovens "viajar e trabalhar fora é algo natural" e o seu estilo de vida não está "virado para as poupanças e as remessas", como acontecia com as anteriores gerações de emigrantes.
"Jantam fora, viajam, visitam exposições, trabalham bastante e têm um trabalho bastante reconhecido", defende Teixeira Lopes.
Por outro lado, ao mesmo tempo que a emigração não qualificada se dirige actualmente para as zonas de França onde se concentra o "turismo e a agricultura", a qualificada vai "para Paris, para o sector mais avançado dos serviços".
"Para eles, Paris continua a ser uma festa", nota Teixeira Lopes.
De tal forma que, acrescenta, "muitos deles chegam como assalariados, mas muito rapidamente se tornam profissionais liberais ou patrões".

Lusa

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