quinta-feira, 30 de julho de 2015

Lenda da Fonte das Bestas

Local: Vila Flor, VILA FLOR, BRAGANÇA

Em Vila Flor é voz corrente que, escutando bem na bica da fonte de S. Sebastião, chamada Fonte das Bestas, se ouvem, por horas mortas, os lamentos duma moura, que se crê formosa como a espuma do mar ou as estrelas do céu. Ora cheguem-se para cá. 

Era uma vez um rapaz de Lodões que costumava vir à vila amiudadas vezes e, quando passava pela fonte de S. Sebastião, curvava-se sobre a tigelinha de ferro para matar a sede, até porque se dizia ser aquela água boa para fazer bom estômago. Uma noite, regressando da feira dos 15, cheio de calor, sentou-se na beira dos tanques da fonte (...) e, ao dar a meia noite no relógio da torre, levantou-se e foi debruçar-se para beber uns goles de água, antes de seguir viagem para a sua aldeia. 
De repente, estremeceu. Lá de dentro do cano pareceu-lhe ouvir uma voz conchichada. Com as fontes a latejar, a respiração suspensa, apurou o ouvido. Não havia engano. Uma voz maviosa com harpejos celestes segredava-lhe carinhosamente, com acento estrangeiro: 
— O teu amor sou eu. Vem buscar-me. Salva-me e eu te darei o carinho com que sonhas, meu nobre redentor. 
O rapaz ficou desorientado, quis arrombar a porta da mina e ir lá dentro buscar a donzela que assim lhe falava. Mas um tropel de butes na calçada fê-lo pegar no casaco e desandar caminho fora. Nos dias que se seguiram, o único pensamento que o dominava era o segredinho da fonte. 
Magicou, magicou, e, uma noite, munido duma alavanca de ferro subiu a costa do Vale da Cal e chegou à fonte, doze badaladas batidas. Seguro de que o lugar estava deserto, estoirou a lingueta da fechadura e, cautelosamente, internou-se na frescura da mina, chamando pela sua moura. Mais uma chamada, alguns ruídos surdos... e o silêncio. 
Ao amanhecer, algumas raparigas que passavam ali, vendo a mina arrombada aproximaram-se e olharam lá para dentro. O pobre rapaz jazia morto em plena mina, com o rosto imerso no veio de água. Infortunado jovem, que assim desposou a sua moura, encantada há mil anos.

Fonte:PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2010 , p.275

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