terça-feira, 30 de junho de 2015

O cristão, o mouro e a Senhora do Naso

Local: MIRANDA DO DOURO, BRAGANÇA
Informante: Orquídea Xavier

Noutros tempos nas terras de Miranda os cristãos eram escravos dos mouros. Havia então um cristão que tinha de trabalhar no duro durante o dia, e à noite era algemado de pés e mãos, e metido dentro de uma arca fechada. E em cima dela dormia um mouro que ali estava de guarda. 
    O cristão, que tinha muita fé em Nossa Senhora do Naso, passava o tempo a rezar-lhe, implorando que o libertasse daquela escravidão. Até dentro da arca rezava. Por fim, num certo dia, ao amanhecer, a arca apareceu num lugar diferente daquele onde tinha ficado à noite. E em cima dela lá continuava o mouro, que acordou com o som dos sinos a tocar ali perto. Perguntou então ao cristão para dentro da arca: 
    — Na tua terra há sinos? 
    O cristão disse-lhe que sim. Então o mouro, sentindo-se vencido por aquele milagre, libertou-o e disse-lhe: 
    — Podes mandar-me fazer o que quiseres. O cativo agora sou eu. 
    Em resposta, o cristão ordenou-lhe que fizesse ali um poço. O mouro pôs-se então a escavar, sempre a escavar, e, como o cristão, nunca mais lhe deu ordens para parar, ele foi sempre escavando. E assim o poço nunca mais teve fim. Há quem fale que o dito poço não tem fundo, e que o mouro ainda lá anda a escavar. 
    O povo canta ainda hoje a seguinte quadra: 

Nossa Senhora do Naso, 
Olhai o que diz o mundo, 
Que tendes na vossa veiga 
Um poço que não tem fundo.

Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros

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