quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Têm medo das rolhas?

Rui Dias José
«Por mim, em qualquer parte do mundo em que me encontre, continuarei a recusar qualquer vinho que não venha com rolha de cortiça».
Nunca escondi que sou um defensor da rolha de cortiça. E por muitas razões! Algumas ultrapassam mesmo a questão do vinho, de que a considero amiga e defensora de excelência de virtudes, sabores e aromas.

Por muito que esteja preocupado com o sector vínico, não desmereço a importância da cortiça (quer em termos económicos, quer em volume de exportação, quer no que se refere aos desenvolvimento regional, à fixação de populações ou o combate à crescente desertificação do Interior). Considero, aliás, que (sector vínico e sector corticeiro) têm um caminho a percorrer em conjunto, implantando a uma só voz a ideia de qualidade e de rigor da produção nacional.
Ao contrário do que alguns nos pretendem fazer crer, em qualquer restaurante digno desse nome, de Paris a Nova Iorque, nunca tive dificuldade em encontrar vinhos com rolha de cortiça. De diversas origens e proveniências, dos melhores que já provei. Preços às vezes elevados… mas a opção de escolha era minha!
Se, ao longo dos anos, alguns incidentes poderei ter tido com qualquer rolha… remeto a responsabilidade para casas vínicas que não cuidaram de garantir a qualidade da cortiça que escolheram – é tudo uma questão de preço!
Caber-lhes-á, por isso, assumir o ónus das escolhas. Às vezes quase tão desastradas como a inépcia de uns quantos empregados de restaurante que não sabem abrir uma garrafa de vinho – mas, disso, a cortiça não tem culpa.
E para aquela balela da «modernidade» como suporte de adopção de outros vedantes… já dei! Todos sabemos onde nos levam «justificações» que servem apenas para mascarar outros interesses, de outros países que não o nosso. Um caminho que, noutras áreas da Economia, tem conduzido aos resultados perversos que estamos agora a observar por essa Europa toda.
O vinho não tem que se banalizar no consumo (para isso já existem bebidas industriais), tem que saber encontrar segmentos de mercado (os «nichos» de que falava o senhor Porter) e satisfazer/corresponder (a)os interesses dos consumidores.
Por mim, em qualquer parte do mundo em que me encontre, continuarei (direito que me assiste) a recusar qualquer vinho que não venha com rolha de cortiça. Serei teimoso? Talvez… mas apetece-me sê-lo.
Mas fica-me sempre dúvida sobre as secretas razões que levam (duas ou três casas vínicas) a querer evitar que o direito à informação dos consumidores se cumpra. Porque não quererão que, nos rótulos das garrafas, venha indicado o material com que foi tapada/vedada a garrafa? Será assim tão estranha, tão difícil, tão descabida, esta exigência? Terão medo de qualquer coisa? Não se percebe.

Rui Dias José
in:cafeportugal.net

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