segunda-feira, 25 de julho de 2011

Aldeias Vinhateiras - «Um produto que se quer auto-sustentável»

O objectivo é recuperar em vez de construir. É sob este lema que, desde 2001, está em marcha o programa «Aldeias Vinhateiras» que pretende valorizar localidades do Douro Vinhateiro através da revitalização económica da região, atraindo mais pessoas e mais turistas. Paula Silva, Directora Regional de Cultura do Norte e António Martinho, presidente do Turismo do Douro, fazem o balanço do programa que em dez anos mudou parte do Douro Vinhateiro.
Favaios, Provesende, Barcos, Trevões, Telões e Ucanha. São estas as seis localidades de que falamos quando o tema é o projecto das «Aldeias Vinhateiras do Douro». Uma designação que nasce decorrente do enquadramento territorial destas seis realidades: situam-se em plena área de cultura de vinha e com uma história a ela fortemente associada.
Distribuídas pelos concelhos durienses de Alijó, Sabrosa, São João da Pesqueira, Tabuaço e Tarouca, estas localidades têm sido protagonistas de um projecto que, segundo Paula Araújo Silva, da DRCN, representou um «importante contributo de salvaguarda e valorização do património arquitectónico e paisagístico, ao disponibilizar verbas significativas para a reabilitação de edifícios privados e espaço público, actuando de forma integrada nos núcleos habitacionais contemplados».
«As intervenções tiveram reflexos positivos na qualidade de vida da população local e tornaram as aldeias mais atractivas para os visitantes e concretamente para a fruição turística», garante Paula Silva.
E não é à toa que esse lado não foi esquecido no projecto. A paisagem do Alto Douro Vinhateiro, a mesma que caracteriza a Região Demarcada do Douro (a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo, criada em 1756 e reconhecida pela UNESCO como Património Mundial em 2001), contempla não só ofertas culturais – desde igrejas e museus - como também a natureza do vale do Douro, feito de encostas íngremes e solos acidentados, com a acção contínua do Homem que tem adaptado o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta. Tudo isto sem apagar a natureza da região e culminado em verdadeiros postais turísticos.
Para além da dinamização natural e cultural desta região, o projecto - criado em 2001, no âmbito da Acção Integrada de Base Territorial do Douro (AIBT do Douro) – contempla também a valorização da gastronomia, divulgada por exemplo através do Festival das Aldeias Vinhateiras. O turismo é, pois, uma das finalidades a atingir.

Afirmação das aldeias como produto turístico
É isso mesmo que António Martinho, presidente do Turismo do Douro (TD), faz questão de recordar. Salienta que tudo isto partiu do trabalho realizado anteriormente através do Programa Operacional da Região Norte 2000-2006. E, com este projecto, pretendeu-se implementar uma intervenção integrada de promoção e animação turística das Aldeias Vinhateiras com o objectivo último de «afirmar essa mesma rede como um produto turístico, coerente, precursor e susceptível de gerar um contributo precioso para o desenvolvimento turístico do Douro».
Neste sentido foram definidos vários objectivos: desde a valorização do património histórico, à identificação e recuperação das artes tradicionais, passando pela divulgação das paisagens de socalcos, pomares e outras produções agrícolas envolventes das aldeias, não esquecendo a revitalização sócio-económica e cultural das Aldeias Vinhateiras através da «indução de dinâmicas locais» que potenciem e implementem a requalificação dos espaços públicos, as estratégias foram mais que muitas.
«Caracterizadas por uma extraordinária beleza paisagística, por uma monumentalidade patrimonial ímpar e por características muito peculiares, as seis aldeias vinhateiras - Favaios, Provesende, Barcos, Trevões, Telões e Ucanha - são também exemplos perfeitos do que de mais genuíno existe em matéria de gastronomia tradicional, de artes e ofícios populares e de cultura ancestral ao nível de festas e romarias», explica António Martinho.
Nesse sentido, reforça, a associação dos seus «extraordinários recursos com a requalificação efectuada a nível infra-estrutural e o vasto programa concertado de animação» das edições do Festival das Aldeias Vinhateiras, são a fórmula para a construção e afirmação destas como produto turístico «forte e coeso, que se quer cada vez mais autónomo e auto-sustentável».
A regeneração do património e revitalização sócio-económica de seis aldeias poderem ser alargado a outras localidades do Douro sempre esteve em cima da mesa. Porém, de acordo com o responsável do TD, na actual conjuntura económica nacional, «é prematuro avançar com qualquer análise nesse sentido».

Concertação dos agentes locais e da animação local
Questionado sobre o futuro do projecto, António Martinho realça que o caminho que já foi desbravado, isto é, os resultados atingidos no final da III edição do Festival das Aldeias Vinhateiras, «já conferiu às seis aldeias, uma certa notoriedade e indicadores claros de retorno da aposta feita pela Turismo do Douro e pelas autarquias».
«Depois de um intenso programa de recuperação onde se pretendeu, sobretudo, preservar e recuperar património e valorizar os espaços públicos por forma a melhorar significativamente a qualidade de vida das populações e contribuir para a valorização dos seus recursos turísticos, é necessário, obviamente, dar continuidade a estes objectivos já concretizados no território», acrescenta.

Nesse sentido, «é vital a consolidação de uma dinâmica integrada de promoção e animação turística da rede de aldeias vinhateiras» de forma a afirmá-las como um produto turístico reconhecido no panorama nacional e internacional de destinos culturais e paisagísticos.
O modelo adoptado para as duas ultimais edições centrou-se na recriação histórica do ambiente das aldeias em determinadas época do seu apogeu, dando ênfase aos rituais, às profissões e às figuras características da aldeia.
No caminho a seguir, o responsável salienta que terá de se manter e reforçar a sintonia entre a Entidade Regional, as autarquias e juntas de freguesias dos concelhos onde as aldeias se integram e continuar a «contar com o empenho incansável e imprescindível dos respectivos párocos, fundamentais na dinâmica da população, na concertação dos agentes locais e da animação local».
Também Paula Silva, directora regional de Cultura do Norte, refere que a DRCN «apoiou e acompanhou este projecto através da emissão de pareceres técnicos e através da constituição de zonas de protecção que pretendem garantir, no futuro, a salvaguarda dos núcleos com maior valor patrimonial».
«Vemos como muito positiva a concretização de projectos semelhantes, capazes de apoiar a reabilitação física de espaços públicos e privados, bem como a revitalização económica e social das regiões», finaliza.
Recorde-se que no âmbito do Programa de Promoção e Animação Turística do Douro e inserido no Projecto Aldeias Vinhateiras, decorre todos os anos, em tempo de vindimas (Outono), o conhecido Festival de Aldeias Vinhateiras, da responsabilidade da Turismo do Douro. O objectivo é reforçar a marca «Aldeias Vinhateiras do Douro» no panorama nacional, regional e local.
O Café Portugal tentou ouvir o presidente da Junta de Freguesia de Favaios, António Barros, bem como Ricardo Magalhães, chefe de projecto da Estrutura de Missão do Douro, sobre as «Aldeias Vinhateiras», mas nem um nem outro se mostraram disponíveis em tempo útil.
Ana Clara | sexta-feira, 7 de Janeiro de 2011

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