terça-feira, 24 de maio de 2011

Bragança - Emigrantes fazem do queijo um negócio no regresso à terra

Um casal de emigrantes de Bragança regressou à terra e encontrou na paixão do marido pela agricultura um negócio familiar que começou com um pequeno rebanho e tem hoje no queijo tradicional uma fonte de rendimento.

A produção não chega para as encomendas e Helena Gomes e Manuel Araújo, que trabalham sozinhos, nem precisaram de procurar clientes.
São as pessoas que vão à aldeia de Gostei, perto de Bragança, àquela que é há seis anos a queijaria «Moreirinhas». «Não é uma fábrica industrial, é uma cozinha regional para fazer queijo», explica Helena, ela que transforma diariamente o leite no queijo que já fazia sucesso nas redondezas antes do projecto.
O casal esteve 14 anos em França e quando regressou, Manuel «já trazia a ideia das cabras».
«A minha ideia era arranjar uma maneira de viver no campo», afirma e, apesar de ter um emprego numa empresa da cidade, decidiu comprar o rebanho de cabras para leite e para fazer queijo.
Helena começou a fazer como tinha aprendido ainda pequena com a mãe e o seu produto começou a ganhar fama entre familiares e amigos que começaram a procurá-la para comprar.
Com um rebanho com menos de 60 cabras, Manuel soube que «havia apoio para fazer uma queijaria» e avançou com o projecto, com a ajuda de uma associação do sector, a ANCRAS.
«Foi muito demorado, quase três anos só para aprovar e depois mais um para começar a obra», recorda Helena, que transformou um anexo da casa de família da aldeia nesta pequena queijaria com o nome do sítio onde têm as cabras (Moreirinhas) e que é afinal uma cozinha regional.
E numa região onde este tipo de equipamento está associado ao fumeiro, até as autoridades responsáveis pelas vistorias finais tiveram alguma dificuldade em perceber que aquilo não era para enchidos, conforme recorda Helena.
«De uma coisa pequena» fizeram «um negócio interessante porque não há nas redondezas quem tivesse feito igual», diz Manuel, que não fala em números. Diz apenas que «não dá prejuízo, é mais para sobreviver».
O marido alimenta o rebanho e trata do estábulo, a ordenha é feita a meias e Helena é a responsável por transformar, sozinha, o leite nos cobiçados queijos com a agilidade de quem faz o processo já mecanicamente.
«Não custa nada, nadinha. Mesmo que não fizesse mais nada, estava óptima aqui todo o dia», garante, embora inicialmente tenha pensado noutro tipo de negócio, como um talho.
É preciso muito leite para fazer um queijo. Com cerca de 65 litros fez seis e meio. «Vendo tudo. Ainda não fui procurar ninguém, têm vindo sempre cá», garante e até tem uma sala para atender os clientes que a procuram vindos da cidade, das aldeias vizinhas e também emigrantes.
«Os emigrantes de França vêm cá no Verão e levam muito. Nunca tenho queijo que chegue para eles», lamenta, da mesma forma que na Páscoa também não aceita encomendas porque as cabras não dão leite entre Outubro e Abril.
A venda de cabritos é outra fonte de rendimento, junto com os subsídios que recebem pelos animais, mas ambos alertam que o regresso à terra «não é fácil».
Helena e Manuel tinham terras e dinheiro para realizar os 50 mil euros que lhes couberam no investimento comparticipado em 25 mil euros. «Para quem não tiver dinheiro, ir ao banco hoje em dia é difícil porque os juros são muito altos», consideram.
Café Portugal

22 de Maio de 2011

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