terça-feira, 24 de abril de 2018

25 de Abril de 1974-Bragança

O 5.º L do Liceu marcou, provavelmente, a nossa geração.
Mais um ano de exame. Uns já tinham abandonado o ano a meio, quer para irem trabalhar, quer para ingressarem no serviço militar. A sociedade estava conturbada e confusa, o meu Pai estava doente e sempre nervoso. A guerra no Ultramar estava a ser uma sombra. Eu estava a começar a fazer a mochila.
Faltou apertar as correias da mochila.
Em 1972, as propinas já custavam 125$00 x 3, ou seja 375$00 para a frequência mais 250$00 de inscrição. Era dinheiro para a altura…era muito dinheiro. Talvez, em pormenores como este, se entenda melhor a razão porque poucos conseguiam seguir os estudos e optavam pela vida laboral por cá ou no estrangeiro. “O dinheiro era caro”.
25 de Abril de 1974 - Bragança
  Estava eu a menos de 3 meses de fazer 18 anos.
Logo de manhã, no Liceu, ouvimos uns rumores de que algo se estava a passar no País, mas nada a que estivéssemos a dar demasiada importância.
Entretanto, na hora do almoço e no refeitório, o Dr. Subtil não tirava o transístor do ouvido e ia relatando os acontecimentos. Todos estavam em silêncio a escutar o que o Dr. Subtil ia dizendo. Ele ouvia as notícias e transmitia-as para nós todos.
O Governo Caiu. Prenderam o Tomás e o Caetano. As tropas estão fora dos quartéis. O povo, em Lisboa e no Porto, está a invadir as ruas para apoiar o “Movimento das Forças Armadas”.
Apesar de tudo, nada de anormal se passou no Liceu e as aulas recomeçaram na parte de tarde. As horas e os dias seguintes, com muita informação, veiculada pelos órgãos de comunicação social, foram decisivas para começarmos a entender melhor as repercussões do que se estava a passar efectivamente em Portugal.
Chegou a Liberdade! Para nós, no início, não nos pareceu coisa de sobeja importância, mas, alguns de nós ao chegarmos a casa começámos a perceber que, para os nossos Pais, a importância era enorme. Eu sabia, por ele me ter dito, que o meu Pai tinha votado em 1958, no General Humberto Delgado.
Conversámos um pouco e fui entendendo melhor algumas coisas que pouco ou nada me tinham preocupado até ao momento. O meu Pai, que bem sabia a “peça” que tinha em casa, apenas me dizia: - Não te metas em confusões.
Um grupo restrito de amigos, já tinha anteriormente a noção do Portugal das diferenças. Afinal a Ilha do Rei era mesmo ali ao lado do Liceu e muitas vezes surripiamos leite de nossa casa para levar aos miúdos da ilha do Rei. A sensibilidade estava latente.
Era hora de mobilizar. Portugal tinha mudado.Não me lembra se, por iniciativa própria ou mobilizados por alguém, já participámos no 1 de Maio de 1974. Eu, mais o Lacerda empunhávamos uma faixa onde se podia ler: “Os estudantes ao lado do povo e sob a direcção da classe operária”.
Eram dias de euforia, talvez pouco racional, mas era assim por todo o lado. O povo estava na rua. E a hora era de festejos.

HM

4 comentários:

  1. Bem haja a quem publicou este texto Também vivi esses momentos nessa linda cidade de Bragança!!!!

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  2. Foi mesmo assim.Bem haja ao autor deste texto e da foto.

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  3. Parabéns pelo seu blog e obrigado por partilhar fotos e textos sobre Trás-Os-Montes, principalmente sobre Bragança, já que a nivel oficial apenas são lembradas em tempo de eleições.
    O seu blog divulga um lado importante sobre essas terras que até os próprios naturais desconehcem, o lado histórico e arquitetctónico que ainda existe, porque infelizmente muito do que havia foi destruido com a convivências entidades governativas locais. Como por exemplo o Antigo mercado junto à Praça da Sé, para já não falar da desertificação da parte antiga da cidade.
    Obrigado!

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  4. Parabéns ao Blog.
    Lembro-me, e de que maneira os vivi, esses tempos no Nordeste Transmontano, em especial na cidade de Bragança, onde o 25 de Abril me apanhou no então Liceu. Já tinha frequentado na mesma cidade, a Escola Industrial e Comercial e - acreditem se quiserem - já tinha umas pequenas "Luzes" sobre a política. Que recordações desses tempos!Olhando para trás, é inacreditável como a malta se "governava" e "contentava" com tão pouco, e a alegria não faltava. Como era a nossa inocência. Como era então a vida, o "modus vivendi".
    Faz bem recordar a malta desse tempo, que no presente, a grande parte já é reformada da sua carreira profissional que a seguir construiu. Foram tempos de recompensa e oportunidade que infelizmente se complicaram.

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